Nova Prata, 28 de Março de 2023

Querides leitorxs

Talvez o(a) leitor(a) não se lembre de Antônio Carlos Bernardes Gomes. Trata-se de uma pessoa que, para mim, foi extremamente inteligente. Filho de uma empregada doméstica, analfabeta, fez da escola (educação) o seu trunfo para vencer as barreiras da pobreza e da ignorância. Após concluir o ensino primário, ingressou no Instituto profissional Getúlio Vargas, tornando-se ajudante de mecânico. Nessa época, em que trabalhava como aprendiz de mecânico, sua mãe já não era analfabeta, pois, ele a ensinou a ler e a escrever.

Apesar de ter sido uma pessoa muito séria e disciplinada (serviu na Força Aérea Brasileira durante oito anos), ficou conhecido em todo o país como humorista, mas também era: músico; compositor; cantor e ator. Em uma apresentação musical na TV, ganhou o apelido de Mussum (em referência ao peixe escorregadio e liso) de ninguém menos que Grande Otelo, quando era integrante do grupo Originais do Samba. Gravou 13 álbuns com o grupo e também três discos (LPs) solos. Quando ouvimos falar em Mussum, inevitavelmente, lembramos de palavras como “cacíldis”, “forévis” e “coraçãozis”, além de outras frases que foram “marca registrada” desse humorista quando pertenceu à trupe Os Trapalhões.

Em setembro do ano passado li uma reportagem na qual um tradicional colégio do Rio de Janeiro informou aos pais a adoção do gênero neutro. Sai alunos e alunas e entra “alunes”. A incógnita “X” outrora muito utilizada em matemática, passaria a integrar palavras como: prezadxs, medicxs, engenheirxs, etc. Obviamente, que a ação repercutiu nas redes sociais e, como tudo que dá ibope, conseguiu movimentar oportunistas políticos. Em específico, os da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), mais conhecida no Brasil por esquemas de rachadinha. Deputados contra e a favor apresentaram projetos para a permanência ou proibição da utilização dos termos. Algumas semanas depois, a discussão já estava federalizada no congresso nacional e deputados federais contra e a favor apresentaram projetos para a adoção ou proibição dos termos de gênero neutro.

 

Embora a ação do colégio seja munida de boa intenção, ela foi, no mínimo, equivocada. Primeiro, porque desfoca o principal objetivo do colégio que é o de ensinar (e não impor).

 

Segundo, porque a ação não foi estudada, planejada e estruturada. O único êxito que conseguiu até o momento foi o de transformar um assunto sério e complexo em mais um tema de discussões político-partidárias e ideológicas. Ou você acredita que alguns desses nobres deputados (estaduais e/ou federais), contra ou a favor, estão realmente preocupados com a educação?

Aliás, o sistema de educação de nosso país, apesar de esforço hercúleo de inúmeros profissionais, vem tendo resultados pífios há décadas. Da educação fundamental ao ensino médio, nossos índices (ranking mundial) são de causar vergonha até perante nossos países vizinhos. Durante a pandemia, não se observou nenhuma ação do Ministério da Educação para minimizar os impactos do ensino remoto. Na verdade, quando se fala do atual Ministério da Educação automaticamente lembramos cenas que poderiam ser classificadas como cômicas se não fossem tão trágicas. Se a vida imita a arte, os atuais gestores da educação poderiam escolher outro programa para imitar e não: Os Trapalhões.

Já passou da hora de casos como o de Mussum deixar de ser pontual para ser a regra do êxito. No quesito sistema educacional, temos desafios históricos que insistentemente deixam de ser trabalhados/discutidos para serem sobrepostos a outros que não são foco (ou melhor, não deveriam ser). Se nossas crianças forem bem educadas, respeitarão opiniões e opções diferentes das suas.

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