Nova Araçá - Daniel Panisson é um fotógrafo araçaense. Com foco em ensaios fotográficos — individuais, para casais ou famílias, por exemplo —, o trabalho de Daniel tem como principal objetivo resgatar o que há de especial em cada pessoa, relação ou história.
Coração, alma e histórias
Além da câmera, da iluminação e das locações, os principais instrumentos de trabalho de Daniel são sentimento e arte.
- O meu trabalho é envolvido com sentimento e um pouco de arte também. Eu gosto de fazer o diferente, porém, em conjunto com o simples, porque o simples é encantador, declara o fotógrafo.
Por acreditar nisso, Daniel procura entrar em contato com o que há de belo em cada pessoa. Não no sentido estético, apenas (e muito menos dentro de padrões pré-estabelecidos socialmente), mas sim no âmbito do que é especial e único em cada pessoa. Diante das lentes do fotógrafo, o que é belo em cada um é uma potência.
Assim, Daniel não apenas enxerga essa beleza, como também procura despertá-la em seus ensaios, fazendo com que as pessoas expressem seus sentimentos durante o processo. Ele capta isso e faz transparecer em suas fotos.
Para que isso aconteça, é fundamental Daniel conhecer a história das pessoas que fotografa e entender o que as faz procurar o ensaio. Ele conta que muitas pessoas vão em busca de fazer um ensaio fotográfico em momentos turbulentos de suas vidas.
“As histórias me inspiram muito”, diz ele. São as narrativas individuais que geram a conexão entre Daniel e quem ele fotografa.
“Por trás dos olhos de todo mundo há uma história”
— Daniel Panisson
Muitas vezes, é isso que permite a ele resgatar o que está apagado nas pessoas — como sentimentos, desejos e sonhos.
- Eu acredito que seja uma forma de terapia e até de autoconhecimento -, opina Panisson.
Daniel enfatiza que é comum, nos ensaios, as pessoas expressarem e demonstrarem aquilo que não conseguem falar no dia a dia — sobretudo os homens, que costumam ser mais fechados emocionalemnte.
- Na nossa região é uma questão muito cultural, muitos homens não conseguem demonstrar -, diz Daniel - Nós, homens, a gente também se coloca muito para baixo. Mas no fim nós também temos que enxergar as coisas boas - conclui.
Autoestima e ensaios femininos
- Vivemos em uma região, infelizmente, preconceituosa. Na questão de orientação sexual, de cor, e até de uma foto -, lamenta. Mas isso não o impede de explorar, por exemplo, a nudez em seu trabalho. Os olhares sobre uma foto sensual são diferentes e chocam muitas pessoas. Outras aceitam mais tranquillamente.
Para Daniel, a autoestima é uma forma de elevar as pessoas. Uma das maneiras que ele faz isso é através de ensaios femininos com sensualidade e nudez, a fim de permitir a a expressão da autoestima e a libertação das mulheres.
- Nos ensaios sensuais eu tento não pegar essa coisa vulgar, porque mulher não é vulgaridade. A sensualidade não está somente no corpo, a sensualidade não é um corpo. Ela está no toque, ela está em um sorriso, ela está em um olhar, em um gesto. Não é só a exposição. E é isso que eu tento mostrar nos ensaios: que mulher é poderosa -, declara .
Fotografia como expressão de si
A fotografia surgiu na vida de Daniel como uma forma de expressão. Diante do olhar da câmera, ele descobriu um espaço para libertar sua individualidade, tudo o que não conseguia expor diante dos olhares de outras pessoas pelo medo do julgamento e da opressão pelo fato de ser homossexual.
Quando adolescente, a fotografia foi uma forma que ele econcontrou de fugir dos ambientes homofóbicos que frequentava — desde o bullying na escola aos comentários que ouvia na rua.
- Até eu poder me aceitar foi muito difícil -, confessa. Hoje, ele usa a fotografia para libertar nos outros o que antes aprisionou em si: a aceitação se ser quem é.
Reconhecimento internacional
Esse olhar individualizado e sentimental, que procura a valorização das subjetividades. é o que levou Daniel a ter reconhecimento internacional.
No início deste ano, Daniel foi procurado por três revistas internacionais de moda e fotografia.
A Intra, de Londres, surpreendeu-o com uma mensagem no Instagram, solicitando permissão para divulgar um de seus ensaios.
Em janeiro, a Hugo, revista com veiculação em 50 países, entrou em contato por e-mail solicitando um ensaio para divulgação na revista. Dois meses depois, quando seu trabalho foi publicado, o fotógrafo emocionou-se em descobrir que, além de ter seu ensaio impresso nas páginas da revista ao lado de outros profissionais de renome, uma de suas fotos estamparia a capa da revista.
Com esses convites, Daniel sentiu exatamente aquilo que ele tenta despertar nas pessoas, em seus ensaios: nunca duvidar de si. Seja da beleza, seja da capacidade, ou do que quer que seja.