Nova Prata, 28 de Março de 2023

- em Entrevista

“Quem está no Brasil não consegue imaginar a situação”, diz pratense que mora na Austrália

Caroline Telles mora na Austrália há três anos. Sua irmã Lívia foi visitá-la em março de 2020 e, com as fronteiras fechadas, não retornou ao Brasil durante a pandemia
As irmãs durante uma escalada na Harbour Bridge, em Sydney. O lockdown havia terminado e o uso de máscara não era obrigatório
As irmãs durante uma escalada na Harbour Bridge, em Sydney. O lockdown havia terminado e o uso de máscara não era obrigatório /

Sydney, Austrália - Em março de 2020, Lívia Telles, 19 anos, foi visitar a sua irmã mais velha em Gold Coast, na Austrália. Caroline Telles, 27 anos, mora no país há três e receberia a irmã para uma viagem de férias de três meses, porém, uma semana depois da chegada de Lívia, as fronteiras australianas foram fechadas por conta do coronavírus. Em entrevista ao jornal Correio Livre, elas contam como tem sido viver a pandemia no país.

Lockdown
Uma das principais medidas adotadas pelo governo australiano para combater a pandemia foi o lockdown, ou seja, a restrição de todas as atividades econômicas, entre março e agosto do ano passado.
As meninas tinham uma viagem inteira planejada para o período, que incluía conhecer a praia mais bonita da Austrália. Tudo isso foi cancelado quando surgiu a pandemia. Caroline, que trabalhava em bares no período, ficou desempregada.
- Se a Lívia não estivesse aqui, eu teria ido embora. Mesmo assim foram muito pesados esses dois meses que passei desempregada - conta Caroline.
Na época, as irmãs saíam de casa apenas para ir ao mercado ou eventualmente fazer atividades físicas. Além do medo do vírus, havia também a incerteza sobre o que aconteceria no futuro.
- A nossa maior preocupação era o dinheiro, porque a gente não sabia quanto tempo ficaríamos desempregadas. Era tudo muito incerto -, conta Caroline. - Nasceram muitos cabelos brancos - completa.
Lívia, que viu as suas férias transformarem-se em um confinamento, teve aulas de inglês por três meses, o que a distraía um pouco.
- Pensava que eu podia estar em casa, com os meus pais, sem me preocupar tanto - conta Lívia.

“Vida normal”
Depois, Caroline conseguiu emprego em um bar em Sydney, onde também trabalha como babá, e Lívia está empregada na desinfecção do transporte público. Além disso, ambas fazem curso superior.
Os novos empregos apareceram em um momento em que, aos poucos, em meados de 2020, a vida começava a voltar ao normal na Austrália.
- O governo tomou as medidas mais radicais o mais rápido possível, que apresentou resultados na época - diz Lívia.
Em março deste ano, os casos de covid-19 haviam zerado no país e os australianos já podiam frequentar aglomerações, como festas e jogos.
- Quem está no Brasil não faz ideia deste momento e nós não conseguimos imaginar a situação em solo brasileiro - comenta Caroline.

Segunda onda
No final do ano passado, porém, os casos começaram a aumentar e o país fechou as fronteiras entre os estados.
Caroline conta que, em Sydney, houve um caso na parte Norte da cidade, no final do ano. Então aquela região foi fechada e várias restrições, comuns no dia a dia da pandemia brasileira, voltaram a ser exigidas, como o uso de máscara em locais fechados.
- A primeira questão que se faz quando surge um caso é o uso da máscara no transporte público. Se você não usar, pode levar uma multa de AU$ 200 (o que equivale a R$ 756,72) - explica Lívia. Ela acredita que a pressão financeira através das multas motiva os cidadãos a respeitarem as restrições.
Há um mês, o governo decretou um novo lockdown, devido aos surtos de novas contaminações pela variante Delta do vírus.

Auxílios e ações governamentais
Na primeira semana de lockdown houve um caso positivo de coronavírus no bar em que Caroline trabalha. Então, quem estava desempenhando as suas atividades naquela noite teve de ficar isolado por duas semanas. Para isso, receberam AU$ 1.500 do governo australiano (cerca de R$ 5.600).
Estudantes internacionais também recebem auxílios, em alguns casos, como financeiros ou de moradia. Para quem perde mais de 20 horas de trabalho por semana, um valor de AU$ 500 (R$ 1.889,72) é destinado para compensar.
- O governo percebeu que muitos estudantes internacionais estavam saindo e faltava gente para trabalhar - observa Lívia.
Nas ruas, antes de entrar ou sair de qualquer estabelecimento, as pessoas devem escanear um código QR na porta do local, que registra o horário de entrada e saída. Isso permite que, quando alguém é positivado para o vírus, o governo rastreie quem foram as pessoas que podem ter entrado em contato com o indivíduo positivado. As informações são publicadas diariamente. Além disso, os testes são gratuitos.
- Acho legal esse monitoramento. Eles sabem quem está infectado, onde ele está e quantas pessoas poderiam, supostamente, também estar infectadas - declara Caroline.
Além da resposta do governo para controlar a pandemia e auxiliar financeiramente os residentes na Austrália, Lívia e Caroline acreditam que o respeito das pessoas às regras impostas também é importante. Isso permite que o país tenha menos casos da doença e que os cidadãos possam ter retomado as atividades normais em muitos momentos.
- É cheio de regras. Questão que o Brasil não tem: regras. Aqui, as pessoas seguem as exigências - diz Caroline.
A primeira morte relacionada à covid-19 no país, em 2021, foi registrada no dia 11 de julho.
Texto: Júlia Provenzi

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Caroline Telles e a irmã Lívia
Caroline Telles e a irmã Lívia