Em entrevista ao jornal Correio Livre, a coordenadora da Comissão Permanente de Seleção da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Valneide Azpiroz, comenta os desafios enfrentados pelo ensino superior durante a pandemia e as necessidades de adaptação nas aulas e no processo seletivo da universidade. Doutora em Letras, Valneide também é professora de oratória e comunicação para cursos como Administração, Contábeis e Direito.
Como aconteceu a flexibilização do ingresso na UCS?
Gosto de usar a analogia do castelo para essa pergunta. A universidade parecia ser um castelo medieval com uma ponte levadiça que se abre duas vezes ao ano, no inverno e no verão, para que as pessoas possam entrar. Começamos, antes mesmo da pandemia, a receber reclamações de pais dizendo que os filhos não estavam prontos, logo que saíam do ensino médio, para ingressarem na universidade. Percebemos isso depois que passamos a oferecer o UCS Tech, que são cursos de curta duração e contemplam pessoas que escolhem outros caminhos, que se casam ou constroem uma carreira e só depois optam por um curso superior. Então surgiram as ideias de flexibilização do ingresso, em 2018, e isso foi muito disruptivo.
Como funciona o Processo Seletivo Contínuo?
Os alunos agora podem entrar na faculdade com o semestre em andamento. São três entradas regulares mensais, por prova ou diariamente pelo aproveitamento de notas.
Esse modelo era usado apenas na UCS Tech, mas com a pandemia estendemos a vários cursos de graduação. Isso significou uma adaptação nas disciplinas de primeiro semestre para um modelo de fluxo contínuo. Cada semestre é dividido em duas etapas, cada uma com nove encontros que se repetem na segunda metade. Os alunos entram continuamente, até o final do primeiro ciclo, e todos completam um ciclo de nove encontros. No segundo semestre, o cronograma acadêmico normaliza. O Processo Seletivo Contínuo acontece todas as segundas e quintas.
Quais as formas de ingresso aceitas pela UCS?
O aproveitamento de notas, do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou de vestibulares anteriores, por exemplo, é diário.
A nossa equipe de tecnologia criou um sistema em duas semanas para viabilizar as provas mensais online, considerando as leis antiplágio e com software antiplágio, o que permite que as redações sejam corrigidas em 24 horas.
O vestibular presencial ainda acontece para o ingresso no curso de Medicina, porque não sobram vagas. Então nos preparamos com engenheiros de segurança do trabalho para oferecer as condições ideais de realização das provas.Com a autorização das prefeituras de cada cidade onde ocorre a seleção, o vestibular de verão aconteceu com todos os protocolos de biossegurança possíveis no momento, como substituição de máscara, até dez alunos por sala e equipe médica à disposição. Elaboramos um manual de boas práticas, que servirá de base para quando pensarmos na volta às aulas presenciais.
Quais adaptações foram feitas para adotar o ensino remoto durante a pandemia?
Felizmente, temos tido uma aceitação muito boa das aulas online. Existe um preconceito com a educação a distância (EaD), mas na verdade esse modelo tem o propósito de flexibilizar tempos e espaços. Só que o aluno precisa ser muito organizado. No início da pandemia nós paramos por uma semana para estruturar a continuidade do ensino, entre professores e a equipe de tecnologia.
As aulas estão sendo síncronas, o que significa que elas acontecem no mesmo tempo em que aconteceriam presencialmente, ao vivo. Houve um processo de qualificação do corpo docente, com cursos e oficinas, bem como a adaptação de internet e equipamentos para quem precisasse.
Quais as perdas e ganhos do ensino remoto?
Tem sido uma adaptação para todos. É uma invasão de privacidade: nós entramos na casa dos alunos e eles entram na nossa. Ninguém entre os professores abre mão da presencialidade, porque é onde acontecem as melhores trocas educacionais. Mas, isso não sendo possível, não medimos esforços para entregar aos alunos o que eles precisam. Estamos trabalhando muito mais por conta disso. A UCS se preparou para isso, e estamos tendo uma boa aceitação dos alunos. As nossas avaliações são as nossas melhores credenciais, e é esse o nosso combustível.