Nova Prata - Desde a suspensão das atividades presenciais na educação básica em educandários públicos e privados, pais e responsáveis têm se esforçado para assumir o papel da escola dentro de casa, com o apoio remoto dos professores. Sem a didática necessária, adquirida com anos de estudo pelos profissionais, as famílias têm se adequado como podem, em paralelo às outras mudanças trazidas pela pandemia.
Como as aulas são organizadas
Os professores preparam as atividades semanalmente, separadas por disciplina ou etapa de ensino, e enviam para os responsáveis pelos alunos.
As tarefas são enviadas de várias formas, desde grupos de WhatsApp até plataformas de ensino a distância, onde os professores podem acompanhar e corrigir as atividades. Em alguns casos, os professores enviam vídeos explicativos e materiais complementares.
Essas diferenças refletem as desigualdades do ensino, como reconhece Cláudia Pires, mãe de dois estudantes da Escola Estadual Tiradentes:
- Posso dizer que somos privilegiados, pois mesmo sem tanto conhecimento aprofundado das disciplinas, podemos ajudar nossos filhos. Temos acesso à pesquisa na internet e computador em casa, onde a grande maioria das famílias ainda não possui - opina Cláudia.
Adaptações da rotina familiar
Cláudia e Joel Pires dividem as atividades para educar os filhos Felipe e Samuel, um no 7º ano e o outro no 2º. Cada um auxilia nas matérias que têm mais familiaridade.
- Procuramos ler e entender o que se pede para realizar as atividades no mesmo dia, visando não ter acúmulos e nem atrasos. Como trabalho em modelo home office e meu esposo no turno da noite, temos um pouco mais de flexibilidade no horário para acompanhá-los nas atividades - comenta Cláudia.
Em muitos casos, quem assume a maior carga de educar os filhos é a mãe. Cleuza Vendramin é mãe é Enzo e Laura, ambos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental no Colégio Nossa Senhora Aparecida. Ela tenta manter os filhos em um ambiente tranquilo para que possam estudar à tarde. À noite, ela e o marido revisam as tarefas dos filhos.
- Teve momentos em que achei que não conseguiriam assimilar os conteúdos, pareciam estar inseguros. É bastante corrido, preciso dar atenção para os dois, mas vale a pena, aprendo muito com isso - relata.
Também é o caso de Inajara Ghellere Comin, cujas duas filhas estudam na Escola Municipal Caetano Polesello.
- Na minha casa eu organizo tudo na parte da tarde, para elas se sentirem como se estivessem indo para a escola, sou eu (mãe) que ajudou nas tarefas - comenta. Ela enfatiza seu empenho para garantir às filhas a melhor educação dentro de suas possibilidades - sou uma pessoa simples, leiga, mas super presente na vida escolar das minhas filhas - complementa.
Desafios para os pais e empatia pelos professores
Diante dessa situação atípica, os pais têm se colocado no lugar dos professores e percebem as dificuldades que eles, muitas vezes, enfrentam.
- É muito difícil prender a atenção das crianças estando em casa. Nos pais não temos a paciência e a sabedoria das profes em situações mais difíceis, mas temos a sorte das professoras estarem sempre on-line nos dando todo esse suporte, os pontos positivos é que estamos passando mais tempo junto e assim podemos vibrar ainda mais com cada descoberta nova - declara Inajara.
Cláudia demonstra gratidão aos professores e à equipe diretiva da escola pelo esforço de adaptar o ensino:
- Tanto os professores, como a direção da escola sempre foram colaborativos, respondendo dúvidas e questionamentos, o que nos ajudou bastante.
Dificuldades das crianças
Cleuza cita, como pricipais dificuldades, conseguir manter a atenção dos filhos para ficar horas diante da tela e fazer com que eles consigam aprender mesmo não estando na sala de aula.
- Em certos momentos meus filhos apresentavam pouco entusiasmo devido ao cansaço de ficar muito tempo em frente a uma tela.
Inajara também percebe que a troca entre alunos e professores fica prejudicada a distância. Ela percebe alterações de humor nas filhas.
- As mudanças são visíveis, mau humor, desinteresse, nervosas, tristes, impacientes, mais fechadas, choram sem motivo e algumas estão desenvolvendo alguns medos. Acho necessário o encontro com os colegas, mas é a minha opinião - alega.
Diante desse cenário, Cláudia entende que seu papel é o de transmitir aos filhos confiança, tranquilidade e esperança.
- No início, achávamos que seria um período breve de ensino a distância, então passávamos essa confiança para nossos filhos. Mas o tempo foi passando e o cenário da pandemia exigia cada vez mais cuidados e a adaptação foi sendo necessária ao modelo de estudos. A maior dificuldade e preocupação, foi em relação ao segundo filho que estava no 1º ano do ensino fundamental, ou seja uma etapa importante da vida deles, a alfabetização. Mas como a professora da turma, com sua experiência e sabedoria, que também precisou se adaptar à nova realidade, conciliando seus conhecimentos adquiridos e naquele momento sendo necessário aliar a tecnologia, fomos criando um vínculo de confiança, cada um exercendo seu papel e chegamos no final do ano com muitas surpresas boas. Daqueles pequenos vídeos explicando a formação das palavras, com muita criatividade e amor, surgiu esse mundo novo e encantador, que é o mundo da leitura. Hoje, ela ainda não é muito fluente, mas percebemos muitos avanços - destaca Cláudia.